20 novembro 2010

13 novembro 2010

Artigo


PENSAR FORA DA CAIXINHA




Atraso é a palavra que melhor caracteriza o desenvolvimento educacional no Brasil

RAFAEL PARENTE

Atraso é a palavra que melhor caracteriza o desenvolvimento educacional no Brasil. Um século atrás, ainda vivíamos uma realidade em que praticamente 70% da população de 15 anos ou mais eram analfabetos, e menos de 25% das crianças entre 5 e 14 anos estavam matriculados em escolas. A primeira universidade só surgiu em 1912. Até hoje, nossos indicadores, como a taxa de reprovação e o desempenho em testes internacionais, como o PISA, continuam ruins, inclusive na comparação com países da América Latina.

No entanto, há motivos para otimismo. Além do avanço em alguns aspectos, como o acesso à educação básica, temos à frente uma janela de oportunidade sem precedentes, já que estamos finalmente chegando a consensos importantes. E, como pela primeira vez temos um número maior de jovens do que crianças, precisamos agir rapidamente para que esses jovens possam aprender mais.

Há teorias que procuram identificar estratégias para se melhorar a educação, desde a aplicação de conceitos econômicos até a simples ideia de ouvir o professorado. A ciência comprova a causalidade entre as motivações de professores e alunos e o sucesso da escola. Recentemente, estudos científicos rigorosos têm comprovado também a eficiência da utilização de novas tecnologias na aceleração do progresso acadêmico, como no aumento de pontuações em testes padronizados.

As melhores universidades americanas já disponibilizam aulas ou cursos inteiros no YouTube, na iTunes U ou na academicearth.org. O professor mais popular do mundo (khanacademy.org), abençoado por Bill Gates e Google, criou milhares de aulas gratuitas, já assistidas por milhões de pessoas em todo o planeta. Instituições educacionais de todos os níveis, como a Open High School of Utah, têm experimentado ações inovadoras com a utilização de netbooks, celulares, plataformas de aprendizagem, redes sociais, tutoria à distância, mundos virtuais, 3D, ensino baseado em projetos, desafios ou jogos e conteúdo didático aberto.

Precisamos apostar em inovações para tornar o processo de aprendizagem nas nossas escolas mais interessante, autêntico, amplo, relevante e customizável para diferentes necessidades. Isso requer, entretanto, investimentos em infraestrutura, manutenção, capacitação do corpo docente, sistemas e conteúdos.

Na Secretaria municipal de educação do Rio de Janeiro, estamos atentos e o Twitter já é um dos principais canais de comunicação com professores e diretores. Estamos sanando problemas elétricos e de segurança. Uma das ações mais importantes é a utilização da Educopédia, a nossa plataforma de aulas digitais (www.educopedia.com.br), que permitirá a projeção das atividades nos quadros brancos em todas as salas de aula de 6º a 9º anos a partir do começo do próximo ano letivo. Essas salas terão netbooks, projetores, caixas de som, internet banda larga sem fio e os professores terão microfones. Estamos também testando um portal (www.rioeduca.net) onde professores já podem compartilhar melhores práticas, encontrar recursos pedagógicos, e mostrar atividades e projetos que realizaram. Todos os 38 mil professores e 690 mil alunos da rede estão recebendo uma nova conta de e-mail com 10 GB.

Estamos avaliando a utilização da Educopédia em sala de aula desde o começo de outubro e o resultado tem sido positivo. Alunos e professores já acessam as aulas de qualquer lugar e a qualquer hora.

Para conseguirmos chegar à educação que queremos e aproveitarmos a oportunidade que temos à frente, educadores e líderes precisam reconhecer que estamos formando pessoas que viverão em um mundo onde o modelo educacional vigente, baseado em linhas de produção industrial, já não se adequa. Precisam lembrar que, além de possuir uma identidade cultural local, os novos cidadãos devem conseguir se incluir em uma vila global repleta de diversidades, com distâncias cada vez menores. Precisamos formar jovens autônomos, solidários e competentes, abandonando velhos moldes, pensando fora da caixinha ou abandonando a caixinha de vez.

RAFAEL PARENTE é subsecretário de Projetos Estratégicos da Secretaria municipal de educação do Rio.
Fonte: O Globo (RJ)